dialética negativa

Sunday, April 30, 2017

teoria literária I - anotações



Para maio de 2017


“Somos levados a contemplações bem agradáveis quando lidamos com o lado poético da alquimia, ao podermos designá-la a nosso modo, com o espírito livre.”
Goethe

Baudelaire
"Aqueles que não são poetas não compreendem estas coisas. Fourier veio um dia, com demasiada pompa, revelar-nos os mistérios da analogia. Não nego o valor de algumas de suas minuciosas descobertas, embora acredite que seu cérebro estava excessivamente tomado de exatidão material para não cometer erros e para atingir de pronto a certeza moral da intuição. Ele poderia ter-nos revelado, de modo igualmente precioso, todos os excelentes poetas nos quais a humanidade leitora faz sua educação, tanto quanto na contemplação da natureza. Aliás, Swedenborg, que possuía uma alma bem maior, já nos ensinara que o céu é um homem muito grande; que tudo, forma, movimento, número, cor, perfume, no espiritual como no natural, é significativo, recíproco, converso, correspondente. Lavater, limitando à face do homem a demonstração da universal verdade, nos havia traduzido o sentido espiritual do contorno, da forma, da dimensão. Se estendermos a demonstração (não só temos esse direito, como nos seria infinitamente difícil proceder de outra forma), chegaremos à verdade de que tudo é hiero glífico, e bem sabemos que os símbolos não são obscuros senão de uma maneira relativa, isto é, segundo a pureza, a boa vontade ou a clarividência inata das almas. Ora, o que é um poeta (uso a palavra em sua acepção mais ampla), senão um tradutor, um decifrador? Nos excelentes poetas, não há metáfora, comparação ou epíteto que não seja de uma adaptação matematicamente exata na circunstância atual, porque essas comparações, essas metáforas e esses epítetos são colhidos ao inesgotável fundo da universal analogia, e porque não podem ser colhidos alhures. Agora, perguntarei se encontraremos, procurando minuciosamente, não somente em nossa histeria, mas na história de todos os povos, muitos poetas que sejam, como Victor Hugo, um repertório tão magnífico de analogias humanas e divinas."
Baudelaire, Reflexão sobre alguns de meus contemporâneos, Vitor Hugo. In: Baudelaire, Charles. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006, p. 595-596.

"A cismadora criança experimenta a vertigem do azul e a alma escapa, sedenta de amplidão, e voa ao encalço das estrelas"
(Raul Pompeia, Canções sem metro, 1900)


Mario Pederneiras - poeta simbolista do Rio de Janeiro
"Tu, minha linda Terra Carioca! {...}
Esquecida
Da feição providencial dos tempos primitivos,
A tua vida
Agora é esta,
Agitada, immodesta,
Toda feita de pompas e attractivos;
Os effeitos da luz ou as nuanças da côr,
Teu aspecto feliz e teu ar escorreito,
Tudo parece preparado e feito
Para a franca explosão do pasmo exterior,
Para a larga attração do dinheiro europeu." p. 30-31

"E, demais, quem não ama a Terra em que nasceu ?

Quem sabe mesmo se este desageito,
Que me parece que amollenta e enfada
Os dias claros e as manhãs serenas
Da vida calma de um logar remoto,
E esta superioridade,

Que proclamo e noto,
Da minha Terra sobre a Terra alheia,
Não são mais que o effeito,
De um natural syntoma neurasthenico
De um legitimo filho da Cidade ?"
Pederneiras, Mario, 1868-1915.  Outomno : versos - 1914. Rio de Janeiro: Livraria Editora Leite Ribeiro, 1921, p. 25, do poema "TERRAS ALHEIAS"

Murilo Mendes
"Tenho sede generosa,
Nenhuma fonte me basta.
Irmão! Vou te levar
O trigo das terras do Egito,
Até o trigo que não tenho.
Egito! Egito! Amontoei
Para dar um dia a outrem:
Eis-me nu, vazio e pobre.
A sombra fértil de Deus
Não me larga um só instante.
Tirai-me o colar da febre:
Eu vos deixo minha sede,
Nada mais tenho de meu."
1 MENDES, Murilo.
As metamorfoses

"A actividade humana augmenta, n'uma progressão pasmosa. Já os homens de hoje são forçados a pensar e a executar, em um minuto, o que os seus avós pensavam e executavam em uma hora. A vida moderna é feita de relámpagos no cerebro, e de rufos de febre no sangue. O livro está morrendo, justamente porque já pouca gente pode consagrar um dia todo, ou ainda uma hora toda, á leitura de cem paginas impressas sobre o mesmo assumpto. Talvez o jornal futuro,— para attender á pressa, á ansiedade, á exigência furiosa de informações completas, instantaneas e multiplicadas,—seja um jornal fallado, e illustrado com projecções animatographicas, dando, a um só tempo, a impressão auditiva e visual dos acontecimentos, dos desastres, das catástrophes, das festas, de todas as scenas alegres ou tristes, serias ou futeis, d esta interminável e complicada comedia, que vivemos a representar no immenso tablado do planeta..."
Olavo Bilac, 1904

"E como pássaros fechados dentro das prisões a cantarem baladas ao sol, aqui estou neste exílio da vida cantando e vibrando de uma doçura que não sei de onde veio"
Santa Rita Junior (1879—1944)

Lívio Barreto
"Ora quem diria que eu
Nihilista da hypocrisia,
De quem até se dizia.
Ser atheu,
Havia de ir para o seio
Fluidicamente pacato
Da burgueza sociedade,
Como um morganho que veiu
De muito boa vontade
Cahir na bocca de um gato!"
Lívio Barreto: 1870 — 1895
Poeta cearense simbolista de vida curta... O poema provavelmente foi escrito entre 1892-1895.

Antonio Candido
"O que é preciso não é banir a especulação a pretexto de
eficiência (bela eficiência temos tido nós, que não sabemos especular!), mas especular sempre e cada vez mais. Os temas aparentemente mais absconsos encerram uma semente de progresso espiritual e, portanto, cultural. O que falta ao Brasil não é apenas pensar a sua realidade, mas pensar os velhos problemas da filosofia, para que não fiquemos emparedados num nacionalismo sem sentido"
Antonio Candido em 1945
Notas de Crítica Literária — A filosofia no Brasil In: Candido. Antonio. Textos de intervenção. Seleção, apresentações e notas de Vinícius Dantas. São Paulo: Duas Cidades; Ed. 34, 2002, p. 264.

Graça Aranha
"Por isso a mocidade que surge é poderosamente analysta. Analysar a Terra, examinar todas as possibilidades do paiz, sondar os seus abysmos physicos e moraes, é a lição sportiva que retempera a armadura do joven moderno. Por esse supremo methodo, o conhecimento não se limita á analyse das forças actuaes e perennes, estende-se ao passado para saber as origens, e situar os factos nas suas épocas com. limpidez e decisão, sem recorrer ao engodo da perspectiva convencional". p. 8

"O espirito tudo transmuda em funcção esthetica, seja a religião pela criação das formas, pelo movimento ascensional do homem á divindade, seja a sciencia na analyse, na synthese, na transformação da matéria, seja a arte pela naturalidade realisadorà dos valores essenciaes e pela fusão do ser humano no Universo, seja a politica no equilibrio das classes na geometria da construcção nacional, na trajectoria do destino do paiz, seja a simples vida que é a busca da harmonia entre os seres e destes com o Universo, de que são fragmentos, em tudo a esthetica como a sublime luz, que é dada aos ephemeros para perceber nas miragens da consciência o inexorável e infindo mysterio do Inconsciente". p. 11
Aranha, Graça. MOCIDADE E ESTÉTICA. Estética. Rio de Janeiro, ano 1, v. 1, n. 1, p. 3-11, set. 1924.


Jean-Luc Nancy; Anne-Marie Lang; Philippe Lacoue-Labarthe
La « poésie romantique » dont il sera sans cesse question dans ce
livre a toujours voulu signifier ce qu'elle signifie — non sans ironie, mais
pas non plus sans ambiguïté — dans ce propos de Dorothea Schlegel :
« Puisqu'il est décidément contraire à l'ordre bourgeois et absolument
interdit d'introduire la poésie romantique dans la vie, que l'on fasse plutôt
passer sa vie dans la poésie romantique; aucune police et aucune institution
d'éducation ne peut s'y opposer. »
Lettre à ses fils citée in Ullmann et Gotthard (cf. p. 8, n. 1), p. 61.
p. 14
La Romantik, clans plusieurs
autres fragments posthumes, est la rubrique d'une « science » analogue à
la Poetik, à la Physik ou à la Mystik.
p. 15

17
comme le noyau d'une organisation appelée à se
développer en « réseau » et le modèle d'une pratique de vie nouvelle.
Friedrich, qui tiendra le plus à cette forme de communauté et en sera le
véritable animateur, sera finalement tenté d'en parler en termes de société
secrète.
Jean-Luc Nancy; Anne-Marie Lang; Philippe Lacoue-Labarthe. L'absolu litteraire: theorie de la litterature du romantisme allemand. Paris: Éditions du Seuil, 1978.

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