"A negatividade da voz é o fundamento místico de nossa cultura" Agamben
Em A linguagem e a morte de Giorgio Agamben, edição francesa, p. 162, essa afirmação vem depois de uma capítulo sobre a relação entre voz e silêncio em Hermes Trismegisto e Valentino (Valentino é um dos mais importantes gnósticos cristãos). Apreender a negatividade da voz (que habita todas as figuras do indizível na onto-teologia metafísica) significa pensar além das oposições (ser e ente, mostrar e dizer, mundo e coisa), quer dizer, pensar o absoluto (p. 163).
Em todos os casos da história da filosofia, o pensamento do absoluto tem a estrutura de um processo, de um sair de si que deve atravessar uma negatividade e uma cisão para retornar ao seu próprio lugar.
Tal como no fragmento de Schlegel abaixo, o momento da cisão moderna quer retornar à origem. Mas na filosofia antiga o lugar da sensibilidade e multiplicidade do mundo, o lado imanente, passou a ser o da própria história. O sujeito moderno é posterior, mas como só existe sujeito moderno, é o sujeito mesmo, alienado da origem, que é posterior. O sujeito já aparece como desfalcado da origem, sedento do fundamento, e já inscrito no processo de afastamento do absoluto e retorno a ele. Se o absoluto já implica o abandono do lugar originário e a viagem de retorno (p. 164, ver explicação da etimologia de ab-soluto, ab: afastamento, solvo- ato de desatar que reconduz qualquer coisa a seu lugar próprio, ao seu em si), não há absoluto sem Er-fahrung, a experiência enquanto viagem, a vida enquanto habitação provisória do ser. Hegel pensa o absoluto como resultado nesse sentido de processo de "absolução".
Reconstituir a perda é sempre uma tentativa de recuperação. Aprender o passado histórico é uma tentativa de fazer o caminho de certo de retorno. Há uma primeira suposição de que, no passado, ninguém conseguiu fazer o caminho certo, mas todas as tentativas contém uma pista de como finalmente descobrir o caminho. É baseado nessa suposição que a crítica à metafísica tenta desqualificar toda a metafísica e ao mesmo tempo relê-la.
A segunda suposição, a mais razoável, é a de que todos os caminhos já trilhados contém uma pista para o caminho que percorreremos porque eles contém em si sua perfeição peculiar. Penso aqui no conceito de perfeição de Spinoza: tudo no mundo é perfeito, mas as coisas são umas mais perfeitas que as outras. Diria que a singuralidade de cada caminho contém sua perfeição, assim como a singulidade de cada texto literário contém seu enigma para a crítica decifrar. Falta fazer a perfeição alheia (que chegou ao seu resultado, ao seu absoluto) contribuir para nossa viagem de volta, voltadiante.
Neoplatonismo: processão e retorno.
Nesse caso, há uma mística da viagem, da peregrinação, no estudo do passado, escolhendo nele aquilo que contém mais perfeição e que se associa melhor com a criação de nossa perfeição, que já é a viagem para o futuro retorno. O caminho hermenêutico da mística, de releitura e desleitura vivificante do texto sagrado, não faz outra coisa.
Em todos os casos da história da filosofia, o pensamento do absoluto tem a estrutura de um processo, de um sair de si que deve atravessar uma negatividade e uma cisão para retornar ao seu próprio lugar.
Tal como no fragmento de Schlegel abaixo, o momento da cisão moderna quer retornar à origem. Mas na filosofia antiga o lugar da sensibilidade e multiplicidade do mundo, o lado imanente, passou a ser o da própria história. O sujeito moderno é posterior, mas como só existe sujeito moderno, é o sujeito mesmo, alienado da origem, que é posterior. O sujeito já aparece como desfalcado da origem, sedento do fundamento, e já inscrito no processo de afastamento do absoluto e retorno a ele. Se o absoluto já implica o abandono do lugar originário e a viagem de retorno (p. 164, ver explicação da etimologia de ab-soluto, ab: afastamento, solvo- ato de desatar que reconduz qualquer coisa a seu lugar próprio, ao seu em si), não há absoluto sem Er-fahrung, a experiência enquanto viagem, a vida enquanto habitação provisória do ser. Hegel pensa o absoluto como resultado nesse sentido de processo de "absolução".
Reconstituir a perda é sempre uma tentativa de recuperação. Aprender o passado histórico é uma tentativa de fazer o caminho de certo de retorno. Há uma primeira suposição de que, no passado, ninguém conseguiu fazer o caminho certo, mas todas as tentativas contém uma pista de como finalmente descobrir o caminho. É baseado nessa suposição que a crítica à metafísica tenta desqualificar toda a metafísica e ao mesmo tempo relê-la.
A segunda suposição, a mais razoável, é a de que todos os caminhos já trilhados contém uma pista para o caminho que percorreremos porque eles contém em si sua perfeição peculiar. Penso aqui no conceito de perfeição de Spinoza: tudo no mundo é perfeito, mas as coisas são umas mais perfeitas que as outras. Diria que a singuralidade de cada caminho contém sua perfeição, assim como a singulidade de cada texto literário contém seu enigma para a crítica decifrar. Falta fazer a perfeição alheia (que chegou ao seu resultado, ao seu absoluto) contribuir para nossa viagem de volta, voltadiante.
Neoplatonismo: processão e retorno.
Nesse caso, há uma mística da viagem, da peregrinação, no estudo do passado, escolhendo nele aquilo que contém mais perfeição e que se associa melhor com a criação de nossa perfeição, que já é a viagem para o futuro retorno. O caminho hermenêutico da mística, de releitura e desleitura vivificante do texto sagrado, não faz outra coisa.
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