dialética negativa

Saturday, April 23, 2022

Curso de pós-graduação na UFRJ de 2022-1: Reencantamento poético e musical

 

PROGRAMA: CIÊNCIA DA LITERATURA

DISCIPLINA:

PROFESSOR: Eduardo Guerreiro B. Losso

Siape: 1721533

CÓDIGO:

PROFESSOR:

Siape:

PERÍODO: 2022.1

NÍVEL: M/D

 

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Teoria Literária/Literatura Comparada

HORÁRIO/DINÂMICA DO CURSO: quinta, 17:30 a 20:30h

Presencial


TÍTULO DO CURSO: Reencantamento poético e musical: Belle Époque, contracultura e contemporaneidade

Ementa: Alguns teóricos da literatura moderna, como Octavio Paz e Michael Löwy, entendem que o romantismo inaugurou uma estética revolucionária e libertadora. É comum salientar ligações entre o romantismo e o modernismo que apontam para um comum apagamento da fronteira entre arte e vida e uma revolta contra o racionalismo utilitarista em prol do reencantamento do mundo a partir do desencantamento dos dogmas e das instituições tutelares.

Seguindo tal linhagem fundamental da modernidade literária, muitos elidem o papel crucial que o período do final do século XIX desempenhou na história. Se a boemia artística nasceu no romantismo parisiense dos anos 1830, ela só cresceu e se desenvolveu numa ligação indissociável com cafés literários e experimentação estética no período de efervescência do decadentismo e do simbolismo. A convivência entre artistas criou uma especial valorização da musicalidade, melódica ou harmônica, da estrutura verbal.

No Brasil, a irrupção do simbolismo se deu nos anos 1890 em todo o país, com destaque para o Rio de Janeiro de Cruz e Sousa e Gonzaga Duque e para a Curitiba da revista Cenáculo. O ponto relevante é que, se no romantismo a revolta existencial e o pendor antiburguês ainda eram setoriais, no simbolismo se tornou basilar.

Tendo como horizonte as conquistas éticas e estéticas da Belle Époque, as vanguardas do século XX puderam radicalizar o efeito de choque e de fragmentação inconsciente. A melodia verbal de mulheres poetas como Gilka Machado é manifestação de estados de alma que reúnem diferentes tipos de afinidade com o universo musical, anseio por liberdade verbal e social, bem como inquietação espiritual.

O ponto de convergência de todo o percurso da boemia artística, sempre minoritária e marginal dentro da sociedade, é a contracultura dos anos 60 e 70, que deu voz ao jovem contestador, libertário, pacifista e privilegiou o rock psicodélico como sua principal manifestação cultural. O grande exemplo brasileiro a ser analisado será a banda tropicalista Os Mutantes, que conseguiu realizar uma das mais cultuadas séries de álbuns do psicodelismo mundial. Nela, podemos reconhecer o ponto culminante da associação entre poesia onírica e sonoridade lisérgica.

A trajetória vai terminar com os efeitos dos aparelhos audiovisuais na percepção e como sua incidência atinge a discussão do encantamento e desencantamento, acesso à informação e estupidificação, bem como suas consequências políticas, presentes na reação da poesia e da música frente às novas tecnologias, ainda mais no contexto inédito da pandemia.

O curso pretende atravessar tais momentos históricos para refletir sobre a correlação entre pacifismo e feminismo, avanços formais e imersões espirituais, corpo e tecnologia, cosmopolitismo e naturismo como forma de liberação comportamental, ambiguidade verbal e inefabilidade musical, cultivo da solidão para a experiência interior e associação comunitária enquanto defesa política da arte.


 Bibliografia geral

ADORNO, Theodor. Prismas: crítica cultural e sociedade. São Paulo: Ática, 2001.

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.

BORGES, Jorge Luis. Prólogos: com um prólogo dos prólogos. Rio de Janeiro: Rocco, 1985.

CALADO, Carlos. A divina comédia dos Mutantes. São Paulo: Editora 34, 2012.

FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

LÖWY, Michael. A estrela da manhã: surrealismo e marxismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

PAZ, Octavio. Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

TÜRCKE, Christoph. Hiperativos: abaixo a cultura do déficit de atenção. Rio de Janeiro: Record, 2016.

VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

WILLER, Claudio. Os rebeldes: Geração Beat e anarquismo místico. Porto Alegre: L&PM, 2014.

WILSON, Edmund. O castelo de Axel: estudo sobre literatura imaginativa de 1870 a 1930. Trad. José. Paulo Paes. São Paulo: Companhia das Letras. 2004. 

A bibliografia específica será dada durante o curso.




Parte 1- Introdução do curso: conceito de encantamento e desencantamento


etimologia, paleolítico, cosmos e sagrado, 

música e magia, sonho, confinamento e abertura, 

animismo, desencantamento, racionalismo religioso, 

filosofia como arte de viver X falta de sentido, 

Weber e Tolstoi, ciência, 

homem musical X niilismo, reencantamento


Bibliografia:

DESCOLA, Philippe. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard, 2005.
ELIADE, Mircea. O xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase.
São Paulo: Martins Fontes, 2002.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. A essência das religiões.
Lisboa: Livros do Brasil, 1962.
ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1963. 
ELIADE, Mircea. Historia de las creencias y las ideas religiosas.
De la edad de piedra a los misterios
de Eleusis. Volumen I. Mexico: Paidós, 1999.
FEDERICI, Silvia. Re-enchanting the World:
Feminism and the Politics of the Commons. Oakland: PM Press, 2019.
HADOT, Pierre. Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga.
São Paulo: É Realizações, 2014.
HUXLEY, Aldous. A situação humana. São Paulo: Editora Globo, 1992.
INGOLD. Tim. Estar vivo: ensaios sobre o movimento,
conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes, 2015.
KOPENAWA, Davi. ALBERT. Bruce. A queda do céu: palavras
de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
LÖWY Michael. SAYRE, Robert. Revolta e melancolia:
o romantismo na contramão da modernidade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
PAZ, Octavio. Os filhos do barro: do romantismo à vanguarda.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
PIERUCCI, António Flávio. O desencantamento do mundo:
todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo: Editora 34, 2013.
TOLSTÓI, Liev. Uma confissão. São Paulo: Mundo Cristão, 2016, ebook.
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Org. H.H. Gerth e C. Wright Mills.
Rio de Janeiro: LTC, 1979.


Parte 2: Guerra total: correlação entre fim de século simbolista e atualidade


Pandemônio pandêmico: sobre Esquifes, de Dario Vellozo

Semana de 22 e cânone literário, antecedência simbolista

Curitiba: centro radiante, crise de vers, poema e prosa

Palavra “esquifes”, sacralização expressiva da desilusão

poema “A última esperança”, “Meditação”, ascese niilista

sagrado e do profano, do tradicional e do moderno

coveiro de esperanças


A desolação da guerra: sobre a revista paranaense O Cenáculo

Aflição e estafa, guerras reais e virtuais

guerra civil da Revolução Federalista, Cavaleiros do apocalipse

“Missa negra”, “Alma penitente”, badaladas mortuárias

ecos de antanho, atmosfera soturna, trabalho de luto


Guerra e meio ambiente, dor da descrença

torturando a ilusão, o mar protesta


ARANTES, Paulo Eduardo. O mundo como alvo: uma genealogia da militarização contemporânea. São Paulo: Coleção sentimento da dialética, 2021.

BEGA, Maria Tarcisa Silva. Letras e Política no Paraná: simbolistas e anticlericais na República Velha. Curitiba: Editora UFPR, 2013.

CAROLLO, Cassiana. Decadismo e simbolismo no Brasil: Critica e poética. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientificos Ed., 1981.

MELLO, Sílvia Gomes Bento de. Esses moços do Paraná... Livre circulação da palavra nos albores da República. (Tese de Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2008.

VASCONCELOS JÚNIOR, Gilberto Araújo de. “Dario Veloso e o apogeu da analogia”. In: O poema em prosa no Brasil (1883-1898): origens e consolidação. 2014. 301f. Tese (doutorado) Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014, p. 196-210.

VELLOZO, Dario. "Esquifes”. In: Obras II. Curitiba: Instituto Neo-Pitagórico, 1969, p. 35-86.

WILLER, Claudio. Um obscuro encanto: gnose, gnosticismo e poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

Fonte:

O CENÁCULO. Curitiba: Impressora Paranaense, 1897.


https://revistacult.uol.com.br/home/covid-leva-cova-sobre-esquifes-de-dario-vellozo/

https://revistacult.uol.com.br/home/91141-2/

https://revistacult.uol.com.br/home/guerra-nao-combina-com-desenvolvimento-sustentavel/



Parte 3- Gilka Machado: corpo, alma e natureza


pobreza e riqueza, Marx e Veblen

Gilka e boemia, riqueza na pobreza

“Aranhol verde”, trepadeira, planta e poesia

sinestesia, pobreza contente, 

simbolismo e temática social

Sublimação, “Felicidade”, opulenta ousadia


CAMPOS, Augusto de. Re-Visão de Kilkerry. São Paulo: Brasiliense, 1985.

CURTIUS, Ernst Robert. Literatura européia e Idade Média latina. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1979.

FARRA, Maria Lucia Dal. Prefácio. In: MACHADO, Gilka. Poesia Completa. Org. Jamyle Rkain. São Paulo: V. de Moura Mendonça, 2017, p. 18-50.

FARRA, Maria Lucia Dal. Gilka, a maldita. Teresa: revista de literatura brasileira, n.15, p. 117-129, 2014.

GOTLIB, Nádia Batella. Gilka Machado: a mulher e a poesia. In: DUARTE, Constância Lima (org.). Anais do 5o Seminário Nacional Mulher e Literatura: Natal, 1 a 3 de setembro de 1993. Natal: UFRN: Ed. Universitária, 1995, p. 17-30.

MACHADO, Gilka. Poesias completas. Rio de Janeiro: INL, 1978.

MICHAUD, Guy. Méssage poétique du symbolisme. Paris: Nizet, 1961.

RAMOS, Péricles Eugênio da Silva. Do barroco ao modernismo. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1979. 

SOARES, Angélica. O Erotismo Poético de Gilka Machado. In: DUARTE, Constância Lima (org.). Anais do 5o Seminário Nacional Mulher e Literatura: Natal, 1 a 3 de setembro dc 1993. Natal: UFRN: Ed. Universitária, 1995, p. 33-42.


https://www.scielo.br/j/cpa/a/xHsVWnH7mzHnZWqx63NbhSM/



Parte 4- Mutantes: tropicalismo psicodélico


expansão da consciência, drogas e busca espiritual

emulação da cítara indiana, gosto exótico

assimilação do rock inicial e salto psicodélico

faixas de Os Mutantes, de 1969, jornada jovem

peregrinação espiritual , “Caminhante noturno”


​BAY, Eduardo Kolody. Qualquer bobagem: uma história dos Mutantes. Universidade de Brasília, dissertação de mestrado, 2009. 

CALADO, Carlos. A divina comédia dos Mutantes. São Paulo: Editora 34, 2012.

DAVIS, Erik. Techgnosis : myth, magic, and religion in the information age. New York: Harmony Books, 1998.

ECHARD, William. Psychedelic popular music: a history through musical topic theory. Bloomington: Indiana University Press, 2017.

HALASZ, Judith R. The bohemian ethos: questioning work and making a scene on the lower East Side.  New York: Routledge, 2015.

HANEGRAAFF, Wouter J. "Beyond the Yates Paradigm: the Study of Western Esotericism Between Counterculture and New Complexity". Aries. Amsterdam Institute for Humanities Research (AIHR), v. 1., issue 1, 2001, p. 5-37.

JULIEN, Olivier (Org.). Sgt. Pepper and the Beatles: it was forty years ago today. London: Ashgate, 2008.

LOSSO, Eduardo Guerreiro B. Elogio à megalomania pop: culto do eu e delírio auto-irônico na “Balada do Louco”, dos Mutantes. Cultura Brasileira Contemporânea. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, ano 1, n. 1, nov. 2006, p. 74-91.

ROSZAK, Theodore. The Making of a Counter Culture: Reflections on the Technocratic Society and Its Youthful Opposition. Garden City, N.Y.: Doubleday, 1969.

VELOSO, Caetano. Verdade Tropical. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.


https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/614229-a-peregrinacao-artistica-de-um-tropicalismo-psicodelico-para-uma-analise-do-lp-mutantes-de-1969-artigo-de-eduardo-guerreiro-b-losso



Parte 5- Cultura do déficit de atenção 


hominização, sacrifício, compulsão à repetição, máquina

máquina de imagem: percepção, cinema

efeito de choque, regime de atenção global

TDAH, privação vital da criança, imaginação técnica

alucinação, estudo de ritual, sustentabilidade e retenção


LOSSO, Eduardo Guerreiro. "Percepção violentada: poesia e alucinação" In: Juliana Pasquarelli Perez; Eduardo Gross. (Org.). Literatura e sagrado: ensaios. .São Paulo: FFLCH/USP, 2019, v. 1, p. 115-141.

TÜRCKE, Christoph. Sociedade excitada: filosofia da sensação. Campinas: Editora da Unicamp, 2010.

TÜRCKE, Christoph. Hiperativos! Abaixo a cultura do déficit de atenção. Tradução: José Pedro Antunes e Eduardo Guerreiro B. Losso. São Paulo: Paz e Terra, 2016.

TURCKE, Christoph. Tradução: LOSSO, E. G.. “Cultura do déficit de atenção”, de Christoph Türcke. Revista Serrote, n. 19. São Paulo: Revista Serrote. IMS - Instituto Moreira Salles, 2015. https://www.revistaserrote.com.br/2015/06/cultura-do-deficit-de-atencao/



Parte 6- Multidão conectada


Isolamento sem recolhimento, solidão, ansiedade

história da inserção no mundo e rejeição a ele

palavra “mundo”, técnicas de si de Foucault

mundanização da ascese, nascimento da universidade

Baudelaire: prazeres da multidão, Nietzsche: asceta antiascético

sociedade de consumo: império da passividade

televisão, pós-modernismo, asceta intramundano: o nerd

internet: entusiastas neoiluministas e navegação viciante

mercado de propaganda online, ódio como vício

empenho e distanciamento da modernidade


Paz, boemia, alteração da percepção

filosofia da arte de viver hoje


AGAMBEN, Giorgio. Altíssima pobreza: regras monásticas e formas de vida. São Paulo: Boitempo, 2014.

FOUCAULT, Michel. Dits et Ecrits IV: 1980-1988. Org. Daniel Defert et alii. Paris: Gallimard, 1994.

HADOT, Pierre. Exercices spirituels et philosophie antique. Paris: Études Augustiniennes, 1987.

SÊNECA. Cartas à Lucílio. Trad. e org. de J. A. Segurado e Campos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.

STOCK, Brian. Ethics through Literature: Ascetic and Aesthetic Reading in Western Culture. London: University Press of New England, 2007.

TURCKE, Christoph. Digitale Gefolgschaft: Auf dem Weg in eine neue Stammesgesellschaft. München: Beck C. H., 2019.

ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021. 


https://revistacult.uol.com.br/home/encantamento-desencantamento-multidao-conectada/


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