Detetive da poesia: o incendiário
Um teórico crítico como eu é um decifrador de poemas, como se cada um deles fosse uma pista do grande crime do mundo. Logo, sou um detetive da poesia, enquanto o poeta é o criminoso. Contudo, não me interessa muito o criminoso e sim o crime: a poesia, que é também a resposta de crime, a promessa de que o crime do mundo não é perfeito, de que o poema pode ser mais que perfeito que o crime do mundo e torná-lo imperfeito. O poema que alcança tal sucesso deve ser mais criminoso que o mundo justamente para que dê uma esperança negativa de que o crime do mundo seja vencido e termine. Em um dos poemas de Poesia em pânico chamado "Resgate", Murilo Mendes escreve:
Vós que pensais atacar as igrejas
Vinde a mim, incendiai-me.
A questão é: ele está se referindo a mim, o investigador do poema, do "caso"? Penso que sim. Se o poeta é um subversor da linguagem e da burguesia, eu sou um subversor da "casa do ser" que o poeta guardou em sua nova linguagem. Estou aqui para invadir sua casa, eu lírico. Se você acha que sua casa é a igreja, se você identifica seu próprio corpo com esta casa, "eu sou uma igreja em ruinas que vai submergir", então prepare-se, porque eu vou te sacrificar, "Apontai para meu corpo, altar do sacrifício", vou realizar o seu desejo, "Queimai-me".
Não vou resgatar a vítima, essa será aniquilada, vou resgatar o próprio crime, o crime da poesia contra o crime do mundo, contra o mundo, mas contra a igreja do mundo também, o lugar que deveria ser o de proteção e regeneração do espírito, lugar de separação do mundo no mundo, sendo, portanto, mais uma vez, duplamente, reflexivamente,
o crime do mundo.
Mas quando tenho o resgate nas mãos, estou ainda mais distante do mundo do que as cinzas do eu lírico. Estou imerso no fogo da poesia, escondido do mundo no mundo. Esse é o lugar do teórico crítico:
o do detetive que matou o criminoso, tornando-se mais criminoso que o criminoso: um traidor da justiça e da injustiça, do mundo e do espírito. Em sua dupla, tripla personalidade, esconde-se dentro da poesia. Não é seu criador, mas seu verdadeiro habitante: estrangeiro no crime do mundo, trai todo mundo sempre; em casa nos poemas, pode incendiar quem ele quiser.
Inclusive o hipócrita do leitor.
Vós que pensais atacar as igrejas
Vinde a mim, incendiai-me.
A questão é: ele está se referindo a mim, o investigador do poema, do "caso"? Penso que sim. Se o poeta é um subversor da linguagem e da burguesia, eu sou um subversor da "casa do ser" que o poeta guardou em sua nova linguagem. Estou aqui para invadir sua casa, eu lírico. Se você acha que sua casa é a igreja, se você identifica seu próprio corpo com esta casa, "eu sou uma igreja em ruinas que vai submergir", então prepare-se, porque eu vou te sacrificar, "Apontai para meu corpo, altar do sacrifício", vou realizar o seu desejo, "Queimai-me".
Não vou resgatar a vítima, essa será aniquilada, vou resgatar o próprio crime, o crime da poesia contra o crime do mundo, contra o mundo, mas contra a igreja do mundo também, o lugar que deveria ser o de proteção e regeneração do espírito, lugar de separação do mundo no mundo, sendo, portanto, mais uma vez, duplamente, reflexivamente,
o crime do mundo.
Mas quando tenho o resgate nas mãos, estou ainda mais distante do mundo do que as cinzas do eu lírico. Estou imerso no fogo da poesia, escondido do mundo no mundo. Esse é o lugar do teórico crítico:
o do detetive que matou o criminoso, tornando-se mais criminoso que o criminoso: um traidor da justiça e da injustiça, do mundo e do espírito. Em sua dupla, tripla personalidade, esconde-se dentro da poesia. Não é seu criador, mas seu verdadeiro habitante: estrangeiro no crime do mundo, trai todo mundo sempre; em casa nos poemas, pode incendiar quem ele quiser.
Inclusive o hipócrita do leitor.
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