Não ser eu
Como se pode prêter attention em si mesmo se o agente da atenção é sempre o eu? É aí que o poema de Antonio Cicero, ("o certo é reconhecer: no fundo de mim sou sem fundo."), nos responde. O "sem fundo" não é, a meu ver, uma superfície rasa, nem uma profundidade insondável, é o portal para o excesso de real, para o não-idêntico. É a atenção ao desconhecido de si mesmo que dá vida ao eu, que leva o eu a "ir fundo", quer dizer, não parar em si mesmo e descobrir a viagem da experiência (Er-fahrung) para fora de si. Tudo isso não é possível se não houver uma estabilidade objetiva e subjetiva do eu, da identidade, como condição prévia para poder sair fora de si sem desestruturar a identidade. Não há viagem sem planejamento, sem prêter attention no caminho, nos seus próprios passos. Se quiser esquecer de si, é mais fácil não sair do lugar! É o que o telespectador sempre faz: descansa de si mesmo para não sair de sua própria miséria, é quando o "sem fundo" se torna irremediavelmanete raso.
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