dialética negativa

Sunday, March 04, 2007

Tao da moda

Mesmo entre pessoas que admiro, percebi uma nova moda naqueles que dizem que a moda é superficial: a moda é superficial para Madonna, Caetano, até mesmo Deleuze, entre outros. Geralmente são figuras que se vestem muito bem, andam na moda, ou até inventam modas. Mas agora aprendi com eles que a moda é superficial.

Talvez essa moda discursiva seja menos criativa que o ciclo infinito de redescoberta das mesmas coisas da moda, porque esse discurso em si não muda o que pensa sobre o mesmo assunto. Talvez o maior lugar comum ao falar sobre moda seja chamá-la de superficial. Mas é por isso mesmo que a moda deles está além da moda e os torna coerentes.

Baudelaire conseguiu se antecipar e apreciar o superficial, descobrindo nele nada mais nada menos do que a modernidade. Mas, depois dele e de Andy Walhol, não conseguimos encontrar algo mais na superficialidade, assim como, depois de Duchamp, não conseguimos encontrar nas pinturas algo mais do que esteticismo. São os grandes assassinos das profundidades.

Até o momento eu nunca andei na moda. Nunca prestei atenção, ou quase nenhuma, em roupa. Observo que roupas chamam atenção quando estou ao lado de outros seres vestidos que reparam na roupa uns dos outros. Eu deveria prestar mais atenção à moda, ou inventar modas, visíveis ou verbais, mas sou a um tempo por demais distraído e nada criativo para esse tipo de arte.

Eu não consigo enxergar modasnão estou sequer atrasado: estou delas ausente, elas não conseguem me chamar a atenção nem eu delas, é evidente, vivemos mundos diferentes.

Sinto-me na verdadeira posição da imobilidade oculta do inexistente.

Não me engano: isso também é moda, é a moda desinteressante que valoriza a superficialidade interessante por ser seu oposto inferior. Portanto sinto-me satisfeito pois tenho alguma função nesse processo.

Assim termino por ser um feliz espectador dos figurinos do existente, da simulação de figurinos, da simulação da simulação e, finalmente, dos figurinos da simulação.