dialética negativa

Tuesday, November 15, 2016

Trechos para aula Poesia e despersonalização- aula-17/11/2016


Aula sobre o livro:


Resumo do livro:
http://www.revistaserrote.com.br/2015/06/cultura-do-deficit-de-atencao/

“Alguma coisa me fica do mundo antigo.”

Murilo Mendes (1994, p. 110)
“Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie” (BENJAMIN, 1994, p. 225)

A palavra cria o real?
O real cria a palavra?
Mais difícil de aferrar:
Realidade ou alucinação?

Ou será a realidade
Um conjunto de alucinações? (MENDES, 1994, p. 739)

ENTREFILMADO
“o filme parou meus relógios [...]
eu procurei uma vertigem qualquer
onde me apoiar [...]
a luz do filme coagulou meu pensamento
e vi sobre o planalto
as tribos todas se sucedendo
as raças todas se misturando na correnteza
de explosões e crônicas e azedumes
e chibatas e delírios e dinheiro
dinheiro dinheiro”
Afonso Henriques Neto (1985, sem numeração de página)

“No filme, a percepção sob a forma de choque se impõe como princípio formal. Aquilo que determina o ritmo da produção na esteira rolante está subjacente ao ritmo da receptividade, no filme” (BENJAMIN, 1989, p. 125; BENJAMIN, 1991, p. 631).

1935: “Quanto aos espíritos, já se vê que são solicitados e seduzidos por tantos prestígios imediatos, tantos excitantes diretos que lhe dão, sem esforço, as sensações mais intensas e representam-lhes a própria vida e a natureza totalmente presente, que podemos duvidar se nossos netos encontrarão o menor sabor nas graças antiquadas de nossos poetas mais extraordinários e de qualquer poesia em geral” (VALÉRY, 1991, p. 185).

Aldous Huxley, em Céu e inferno, diz que a Londres ainda do final do século XIX possuia “letras luminosas” que, projetando-se “contra o céu eram uma novidade, e tão raras eram que rasgavam o manto da noite ‘quais pedras de um adereço’”. O autor cita aqui o original like captain jewels in the carcanet Soneto 52 de Shakespeare (SHAKSPEARE, 1821, p. 273). “[...] Hoje não há mais encantamento. O néon está em toda parte e, assim sendo, perdeu seu efeito sobre nós” (HUXLEY, 1966, p. 75-76).
(BAUDELAIRE, 1986, p. 41, “enquanto nós, poetas e filósofos, regeneramos nossa alma pelo trabalho sucessivo e pela contemplação; pelo exercício assíduo da vontade e pela nobreza permanente da intenção, criamos para nosso uso um jardim de beleza verdadeira”).

“Outra cidade”, de Gab Marcondes
era uma cidade
onde poucos
andavam na rua
as autoridades, os jornais
diziam que era perigoso

nano receptores auriculares
carros inteligentes
óculos de interatividade visual
dispositivos para locomoção
toda espécie de próteses

andar na rua
se expor ao vento,
sol, calor, frio, chuva,
doenças contagiosas
radiações, medo
era coisa de pobres,
loucos, idiotas
ou revolucionários

nessa cidade
um poeta atirou uma pedra para quebrar uma vitrine

mas era uma cidade inexistente
lá os vidros não quebram

aqui os cacos
ainda estão no chão
quem ali pisou
viu surgir
um corte
uma incisão
de onde saiam
as seguintes palavras:

Em caso de emergência pare o tempo
(MARCONDES, 2014, p. 13)

“Marx havia dito que as revoluções são a locomotiva da história mundial. Mas talvez as coisas se apresentem de maneira completamente diferente. É possivel que as revoluções sejam o ato, pela humanidade que viaja nesse trem, de puxar os freios de emergência” (LÖWY, 2005, p. 93-94; BENJAMIN, 1991, p. 1232).

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BENJAMIN, Walter. Gesammelte Schriften I. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1991.
BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1989.
HUXLEY, Aldous. As portas da percepção e O céu e o inferno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito de historia”. Sao Paulo: Boitempo, 2005.
MARCONDES, Gab. Em caso de emergência pare o tempo. Rio de Janeiro: Circuito, 2014.
MENDES, Murilo. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Aguilar,
1994.
NETO, Afonso Henriques. Tudo, nenhum. São Paulo: Massao Ohno, 1985.