dialética negativa

Monday, September 24, 2012

Abnegação e egoísmo burguês



O ideal exagerado do homem, do conceito rígido e sentimental de virtude e abnegação, do culto do heroísmo abstrato, tem a mesma raíz do egoísmo e niilismo individualista, com o qual ele se coloca em contradição e em efeito recíproco. A superação dessa moral não está ligada a uma construção de algo melhor, antes, a uma produção de estados por baixo dos quais o fundamento da existência recai. A realização da moralidade de um estado da sociedade e do indivíduo digno do homem  não é simplesmente espiritual: é um problema histórico.
Max Horkheimer, Egoísmo e movimentos de liberdade.

Das überspannte Musterbild des Menschen, der
zugleich sentimentalische und harte Begriff der Tugend und Selbsthingabe, der Kultus eines abstrakten Heroismus haben die gleiche Wurzel wie der individualistische Egoismus und Nihilismus, mit dem sie zugleich in Widerspruch und Wechselwirkung stehen.

Die Überwindung dieser Moral liegt nicht im Aufstellen einer besseren, sondern im Herbeiführen von Zuständen, unter denen ihr Daseinsgrund hinwegfällt. Die Verwirklichung der Sittlichkeit, eines menschenwürdigen Zustandes von Gesellschaft und Individuen, ist kein bloß seelisches, sondern ein geschichtliches Problem.

Horkheimer, Max. "Egoismus und Freiheitsbewegung". In: Gesammelte Schriften. Band 4: Schriften 1936-1941. Frankfurt: Fischer, 2009, p. 83.

Herkules-zwischen-Tugend-und-Untugend-von-Emmanuel-Benner

Friday, September 21, 2012

A vontade estraçalhada por dentro- Leonardo Fróes




Queria muito (não, já o não queria depois de ter pensado) achar o fio de conexão dos impulsos com as idéias mais repentinas. Quando chegado à fase posterior à explosão, na qual os sons o atordoavam, na qual querer, sem forma, o alucina. Visões que ainda teria algum dia, como a de um navio em chamas no mar. O prazer animal de abandonar-se: uma escrita dos instintos: uma voz na garganta. A vontade estraçalhada por dentro, na solidão dos seus percursos, de fazer um gesto. Os gestos que poderia ter feito, ao atingir, no centro das chamas, aquela zona onde as labaredas não queimam.
 "Querer dizer", do livro Quatorze quadros redondos. Fróes, Leonardo. Vertigens. Obra reunida (1968-1998). Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 329-330

Thursday, September 06, 2012

Demoniocracia X Santa indiferença do cosmos



E se houvesse eleição universal para a presidência divina do universo? E se os deuses-candidatos se manifestassem com quasares cujo brilho serviria para ganhar os votos de outras galáxias? E se isso é o que de fato ocorre, de big-bang em big-bang? E se essa é a explicação para a imperfeição do mundo?
A política é o espelho da essência corrompida do ser? Não há um deus maligno, mas uma democracia maligna, uma demoniocracia que rege a mudança de deuses corruptos?

Esse tipo de hipótese absurda serve para eu me convencer exatamente do contrário: o universo é regido por mistérios inconcebíveis e infinitamente melhores que uma hipótese infernal. E aí, com a mesma sensação de sair de um filme de terror, acho que, apesar de a ordem social ser o inferno da exploração da maioria por poucos, há algo maior que, graças ao soberano acaso, é indiferente e superior ao mal e ao bem.

Sim, e apesar da maioria ter aquela monumental inveja dos poucos ricos capitalistas, mal sabe que esses poucos são também miseravelmente infelizes, viciados em jatinhos, imóveis, terrenos, lucros estratosféricos, consumo irrefreável, cocaína e sado-masoquismo. Que bom que não são eles os donos nem de uma galáxia, somente de uma variação de metamorfose rara da matéria! E que bom que a inveja da maioria da maioria também não tem a chance de fazer nada a não ser uma roubalheira mútua, à imagem e semelhança da corrupção dos seus dominadores, que, cosmiscamente falando, não é nada!
E o melhor de tudo é que a minoria da maioria explorada e a minoria da minoria no poder tenta justificar belamente, para si mesma, a raridade de sua existência!

Para quem se angustia com a falta de sentido de um cosmos sem extraterrestres, temos de agradecer pelo governo brasileiro não ser a grande potência mundial, muito menos ser o senhor do universo. Essa sim é a prova irrefutável de uma sorte de graça

Os dois maiores consolos: primeiro, o universo está a salvo da queda do homem, segundo, o inferno da desigualdade brasileira é só a periferia da periferia de uma galáxia periférica.

Eduardo Guerreiro Losso